A melhor maneira de pensar no futuro é preservar o presente
PREVISÕES DE MUDANÇAS NO CLIMA
Em seu último relatório, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática avisa que a temperatura média na Terra vai aquecer entre 1,4°C e 6°C até 2100. Para os cientistas que integram os quadros de estudos voluntários da entidade, parte desse aquecimento será provocada pela alta concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, com diferentes conseqüências em cada lugar do planeta. Enquanto alguns países sofrerão com a queda das temperaturas, outros serão castigados pelo forte calor e pela seca. O Brasil faz parte desse último grupo.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em parceria com o Centro Hadley de Meteorologia do Reino Unido, divulgada durante a COP15, mostrou que os impactos sobre o território brasileiro poderão ser ainda piores que os previstos pelo IPCC. Segundo as projeções dessas entidades, a temperatura média brasileira ficaria 20% acima da mundial durante todo o século 21. Em alguns pontos, como na Amazônia, as temperaturas podem ficar até 6,6°C acima da média.
O maior impacto, porém, será no nível das chuvas. Na Bacia do São Francisco e na Bacia Amazônica, o índice pluviométrico pode cair em 47% e 40%, respectivamente. A mudança afetará o setor energético e colocará em risco as culturas agrícolas de ambas as regiões. A região sul, ao contrário, deve sofrer com o excesso de chuvas, cujo volume deverá aumentar cerca de 2%, segundo o estudo.
O Inpe mantém desde 2005 um Grupo de Pesquisa em Mudanças Climáticas (GPMC) formado por instituições como a Universidade de São Paulo – IAG, Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável, Embrapa, Inmet, Fiocruz e Aneel, além de pesquisadores que trabalham nas áreas de mudanças do clima, análises de vulnerabilidade, estudos de impactos e adaptação. O objetivo do grupo é desenvolver pesquisas relacionadas à mudança climática, com destaque à observação e projeção de cenários climáticos que ajudem a antever os efeitos das emissões de carbono na atmosfera.
[INSTITUTO AMANHÃ. Guia Sustentabilidade: Meio Ambiente. Porto Alegre – RS, 2010.]
COP15 – CONVENÇÃO DE COPENHAGUE
A COP15 foi a 15ª convenção dos países signatários da Convenção Quadro sobre Mudança Climática das Nações Unidas, um acordo internacional criado durante a Eco-92. Realizada em Copenhague, na Dinamarca, a COP15 tinha como principal objetivo a definição de novas metas de redução dos gases de efeito estufa para o segundo período de vigência do Protocolo de Quioto, a partir de 2013. A primeira meta de redução da história foi estabelecida em 1997, na COP3, por meio do Protocolo de Quioto. Ela determinou que os países desenvolvidos (e que constam no Anexo 1 do Protocolo) diminuíssem em média 5% das emissões de gases do efeito estufa entre os anos de 2008 e 2012. A meta, porém, jamais foi cumprida.
Na COP15, os países signatários tentaram chegar a um novo acordo, mais realista, para reduzir o despejo de carbono na atmosfera. Mas não houve consenso e a convenção foi considerada fracassada. O fiasco só não foi completo porque uma declaração de intenções foi assinada entre os países participantes. O chamado “Acordo de Copenhague” não estabelece nenhuma meta, mas pelo menos reconhece a necessidade de se implementar medidas para cumprir dois objetivos: evitar que a temperatura global suba mais do que 2°C e estabilizar as emissões provenientes do desmatamento e da degradação de florestas.
Elaborado pelo Brasil, China, Índia, África do Sul e Estados Unidos, o documento também prevê a doação de bilhões de dólares para que os países mais vulneráveis às mudanças climáticas consigam implantar programas de adaptação das emissões de carbono. O objetivo é que as doações totalizem US$130 bilhões até 2020. As contribuições virão, principalmente, de potências como Estados Unidos, Japão e União Europeia. Dos 193 países presentes, 111 expressaram seu apoio ao acordo e 75 incorporaram metas voluntárias de redução ou estabilização de emissões até 2020. Entre eles, China, Índia e Estados Unidos.
[INSTITUTO AMANHÃ. Guia Sustentabilidade: Meio Ambiente. Porto Alegre – RS, 2010.]
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Qualidade em vez de quantidade. Essa é máxima por trás do conceito de desenvolvimento sustentável, segundo a qual o crescimento econômico não pode se dar às custas do meio ambiente. Para ser sustentável, o desenvolvimento deve estar calcado no princípio de que os recursos naturais são limitados e que, para garantir a sobrevivência das populações futuras, é necessário ser responsável e racional hoje. Essa consciência deve determinar a escolha das empresas, governos e consumidores por ações sustentáveis, como a redução do uso de matérias-primas e o aumento da reutilização e da reciclagem.
A definição de desenvolvimento sustentável foi apresentada pela primeira vez em 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em Estocolmo, na Suécia. Seus autores, Maurice Strong e Ignacy Sachs, conceituaram o ecodesenvolvimento como sendo o desenvolvimento sustentável que atende às exigências do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras fazerem o mesmo.
Passados 38 anos, a noção de desenvolvimeto que não esgota os recursos permeia boa parte das ações diárias das pessoas, como o simples ato de fechar a torneira ao escovar os dentes e assim economizar água. Ou a separação do lixo orgânico daquele que pode ser reciclado – para evitar, assim, a sobrecarga dos aterros ou a contaminação da terra e dos rios por materiais que demoram séculos para se decompor. Entre as empresas, as medidas de diminuição do impacto ambiental ganharam status de ações de marketing, ajudando-as a se diferenciar no mercado e agregar valor a seus produtos. A Coca-Cola Brasil, por exemplo, lançou uma embalagem PET feita a partir da cana-de-açúcar. A PlantBottle tem origem parcialmente vegetal: 30% de sua composição leva etanol no lugar do petróleo. Além de diminuir o uso de recursos não renováveis, a nova embalagem diminuirá em até 25% das emissões de CO2 da empresa.
Em agosto de 2010, a Organiação das Nações Unidas anunciou a criação de um grupo de pesquisa que vai se debruçar exatamente sobre a problemática de como retirar as pessoas da pobreza e assegurar o desenvolvimento econômico em sintonia com o combate às mudanças climáticas. O “Painel de Alto Nível sobre Sustentabilidade Global” é composto por 21 países e encabeçado pelos presidentes Tarja Halonen, da Finlândia, e Jacob Zuma, da África do Sul.
[INSTITUTO AMANHÃ. Guia Sustentabilidade: Meio Ambiente. Porto Alegre – RS, 2010.]
CRÉDITOS DE CARBONO
Um dos principais dispositivos do Protocolo de Quioto, os créditos de carbono são um mecanismo econômico que permite aos países desenvolvidos atingir suas metas de redução das emissões de gases do efeito estufa, a partir da compra de certificados de redução de emissão, emitidos por países em desenvolvimento. Dessa forma, uma empresa brasileira que tenha implementado um projeto de redução de emissões ganha o direito de vender aos países ricos a poluição que deixou de causar. Cada tonelada de carbono equivalente (CO2 e) não emitida se transforma em um crédito que pode ser negociado diretamente entre as empresas ou por meio da Bolsa de Valores.
Países que não precisam diminuir suas emissões ou que não assinaram o Protocolo de Quioto também podem negociar créditos de carbono – nesse caso, o mercado é chamado voluntário. De acordo com um relatório divulgado pela organização americana Ecosystem Marketplace, o mercado voluntário de carbono movimentou algo em torno de US$ 705 milhões em 2008. O preço médio de cada crédito voluntário negociado no mercado de balcão (OTC) foi de US$ 7,34 por tonelada de CO2 e. Em 2007, o valor era 22% menor – cerca de US$ 6 por tonelada de CO2 e.
Todo esse dinheiro, é claro, despertou a ambição de grandes investidores. Tanto que o mercado de crédito de carbono já passou por seu primeiro revés. Em agosto de 2010, a Organização das Nações Unidas descobriu 19 indústrias chinesas suspeitas de fraudar o mercado de carbono. As empresas dedicadas à destruição do HFC23, um gás de efeito estufa usado em equipametos de refrigeração, podem ter vendido créditos sem a equivalente redução de emissões. A descoberta do esquema olocou em xeque a credibilidade do sistema e levou à suspensão da venda dos créditos de HFC23 emitidos por essas empresas.
[INSTITUTO AMANHÃ. Guia Sustentabilidade: Meio Ambiente. Porto Alegre – RS, 2010.]
CAMADA DE OZÔNIO
O primeiro sintoma perceptível das atividades predatórias do homem foi a redução na camada de ozônio. Em 1985, os cientistas Joseph Farman, Brian Gardiner e Jonathan Shanklin, do British Antartic Survey (BAS), constataram que em uma área sobre a Antártica a média de concentração de ozônio estava baixa demais. A descoberta, publicada em 1985, na revista Nature, e prontamente apelidada de “buraco na camada de ozônio”, levou líderes de todo o mundo a assinar um acordo internacional para proibir o uso de compostos químicos que destroem o ozônio. O Protocolo de Montreal, criado em 1987, é hoje uma das provas de que a ação conjunta das nações é capaz de reverter os abusos cometidos contra a natureza.
O ozônio é o principal gás atmosférico. De coloração azul-escura, ele se concentra na estratosfera, em uma faixa entre 20 e 40 quilômetros de altitude. Com cerca de 15 quilômetros de espessura, atua como um filtro para a radiação ultravioleta da luz solar, que provoca inúmeros males ao ser humano – do câncer de pele a cataratas.
A molécula de ozônio é formada por três átomos de oxigênio. O ozônio é gerado quando a radiação ultravioleta rompe as moléculas de oxigênio, mas é destruído quando entra em contato com substâncias químicas como o cloro e o bromo, emitidos na atmosfera por produtos que utilizam clorofluorcarbono (CFC) e hidrocarbonetos halogenados. Aparelhos de ar-condicionado de parede, centrais e automóveis ultilizam o CFC como agente de resfriamento.
Nos anos 1980, o CFC era amplamente utilizado como agente de resfriamento dos refrigeradores e como propelente de aerossóis e extintores. Nessa época, cerca de 500 mil toneladas de CFC eram emitidas a cada ano – o que fez com que o volume acumulado na atmosfera chegasse a 30 milhões de toneladas, de acordo com dados da Unidade de Coordenação de Pesquisa do Ozônio na União Europeia. Hoje, passados 25 anos da descoberta da redução da camada de ozônio, os países signatários do protocolo comemoram o retardamento dos impactos das mudanças climáticas graças à eliminação gradual cos CFCs. Os cientistas afirmam que a espessura da camada de ozônio sobre a Antártica se recuperará e até 2080 ela deverá retornar aos níveis de 1950.
A redução da camada de ozônio é conhecida desde os anos 1970. Apesar de não terem participado da publicação da descoberta, foram os cientistas Paul J. Crutzen, Mario J. Molina e F. Sherwood Rowland que deram o primeiro alarme sobre a destruição do ozônio pelas reações com compostos como os CFCs utilizados nos aerossóis e refrigeradores. Por suas pesquisas, os três receberam o Nobel de Química em 1995.
Alguns cientistas, no entanto, acreditam que o buraco na camada de ozônio sobre a Antártica é resultado das condições típicas da meteorologia local. O frio extremo durante o inverno aumenta a produção de cloro e bromo, e quando chega a luz da primavera, a perda de moléculas de ozônio se acelera. Para calcular seu tamanho, a Nasa executa um cálculo médio das áreas com baixa concentração de ozônio durante os dias 21 e 30 de setembro. Desde a sua descoberta, a maior extensão já registrada do buraco de ozônio sobre o continente branco foi em 2006, com 28 milhões de metros quadrados.
[INSTITUTO AMANHÃ. Guia Sustentabilidade: Meio Ambiente. Porto Alegre – RS, 2010.]
AQUECIMENTO GLOBAL
Fenômeno ligado às mudanças climáticas, a expressão designa o aumento da temperatura média dos oceanos e da superfície do planeta.
Sua origem está diretamente relacionada à concentração de gases na atmosfera, cujo efeito é retenção de calor – o chamado efeito estufa.
De acordo com a Organização Meteorológica (OMM), o aumento de temperatura verificado nos últimos 50 anos alcançou recordes absolutos e vem apresentando uma sucessão de anos cada vez mais quentes desde 1995. A última década (entre 2000 e 2010) foi a que registrou as temperaturas mais altas desde que os cientistas começaram a fazer registros meteorológicos, em 1850. A taxa de aumento entre os anos 2001 e 2005 chegou a 0,95°C. A OMM estima que 2010 poderá entrar para história graças a uma série de altas recordes registradas em todo o globo, combinada com o número elevado de queimadas e incêndios florestais. No Paquistão, por exemplo, os termômetros marcaram 53,5°C em maio, enquanto a Rússia registrou 44°C no mês de julho – período em que a média histórica costumava ser de 30°C.
Os números corroboram os dados do mais recente relatório do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), que indicam um aumento médio global das temperaturas entre 1,8°C e 4°C até o final deste século. No pior dos cenários, esse aumento pode chegar a 6,4°C, caso a população e a economia não adotem políticas efetivas de diminuição da emissão de gases de efeito estufa. O sinal mais evidente do aumento de temperatura, segundo o IPCC, será a alteração na frequência e na intensidade dos eventos climáticos extremos, como ondas de frio e calor, tempestades violentas, enchentes e secas.
Para o Brasil, o cenário é de um aumento médio de 2°C a 8°C entre 2071 e 2100, o que poderia provocar a desertificação de 15,7% da região nordeste e a redução de até 60% das áreas aptas ao plantio de soja nas regiões centro-oeste e sul.
Em seu relatório “Desenvolvimento Mundial 2010: Desenvolvimento e Mudança Climática”, o Banco Mundial afirma que o aquecimento global pode levar à extinção da floresta amazônica e uma escassez de água que afetará 77 milhões de pessoas na América Latina e Caribe, até 2020. O impacto mais desastroso será sobre a Amazônia, que corre o risco de se transformar em uma imensa “savana”, com vegetação rala e grandes descampados. A Cordilheira dos Andes também está ameaçada – os cientistas do Banco Mundial acreditam que parte das geleiras poderá derreter, provocando a escassez de água para toda a população andina. A extinção dos arrecifes do Caribe e a maior incidência de furacões no Golfo do México são outros efeitos apontados pelo relatório da instituição.
[INSTITUTO AMANHÃ. Guia Sustentabilidade: Meio Ambiente. Porto Alegre – RS, 2010.]