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CÂNCER SURGIU HÁ 1 BILHÃO DE ANOS
Novo estudo sugere que doença se originou em formas de vida pré-históricas. (Texto de Salvador Nogueira e Bruno Garattoni).
Cada vez mais gente tem câncer – segundo a Organização Mundial da Saúde, o número de casos vai crescer 50% até o final da década. Consequência do estilo de vida moderno. Mas um novo estudo sugere que o câncer, na verdade, pode ter origens remotas – em criaturas muito antigas, os metazoários, que existiram há aproximadamente 1 bilhão de anos.
Naquela época, as formas de vida mais sofisticadas eram meros agrupamentos de células, praticamente iguais e com o único objetivo de se reproduzir a qualquer custo. Esse comportamento é extremamente parecido com o dos tumores – cujas células apresentam pouca diferenciação de funções e se multiplicam de forma descontrolada. Os cientistas acreditam que, como o ser humano evolui a partir dos metazoários, o câncer é provocado por resíduos do DNA deles: fragmentos genéticos de 1 bilhão de anos atrás, que estão dentro das nossas células – e voltam à vida na forma de tumor. “O aparecimento de tumores no corpo é uma manifestação do metazoário que existe dentro de nós”, diz o estudo, assinado por Paul Davis e Charles Lineweaver, da Universidade do Arizona e da Universidade Nacional da Austrália. A má notícia é que, se existe há 1 bilhão de anos, o câncer teve tempo para desenvolver táticas de sobrevivência. “Ele tem muitas habilidades, que não podem ser explicadas somente por sua eventual evolução dentro do corpo [do paciente] ”, diz Lineweaver. A boa notícia é que, desvendando a origem dos tumores, será possível enfrentá-los melhor. “Conhecendo as armas do inimigo, a batalha fica muito mais difícil”.
[NOGUEIRA, S.; GARATTONI, B. Cancer surgiu há 1 bilhão de anos. Revista Superinteressante, São Paulo, n. 290, p. 18, abr. 2011.]
E SE A GENTE PARASSE DE COMER CARNE?
(Texto de Bruna Maia e Rodrigo Rocha).
Os vegetarianos venceram. Do dia para a noite, o mundo todo resolveu para de comer carne. Seria bonito: só no Brasil pouparíamos as vidas de 43 milhões de bois, quase 40 milhões de porcos e 4,5 bilhões de frangos a cada ano. Esses são animais de corte, criados para virar comida. O que significa que eles não foram nutridos e tratados para entrar em outras linhas produtivas, como de leite ou ovos. E que eles cairiam em algo como um desemprego funcional: não teriam mais função nas fazendas. Quer dizer, daria para aproveitar um ou outro para puxar carroça. Mas o grosso ganharia alforria do homem. Apesar de linda, a liberdade tem preço. Sem ninguém para alimentá-los, os animais teriam de buscar comida. Competiriam por alimento com outras espécies e ficariam vulneráveis a ataques de predadores. Em áreas de pastagens, como nos Pampas brasileiros, a vida seria boa. Já no Pantanal, boizinho teria de enfrentar até onça.
Enquanto isso o açougue do lado da sua casa estaria fechando as portas, junto com abatedouros e frigoríficos. Pior para o Brasil, maior exportador de carne de boi e de frango do mundo, além de quarto na exportação de carne suína. A economia de EUA, China e União Europeia também sofreria. Esses países produzem muita carne para atender à demanda de seus próprios habitantes. Já os ambientalistas comemorariam, e não só porque pararíamos de matar bichos. A pecuária tem um grande impacto ambiental. De todo o desmatamento causado no mundo, 14% acontece na Amazônia para abrir espaço para a criação de animais. Derrubaríamos menos árvores, o que, de quebra, contribuiria para reduzir o peso de nossas emissões de gases.
Não comeríamos feijoada, peru de Natal, bacalhau (carne branca também estaria fora). Isso não significa necessariamente mais saúde. Perderíamos vitaminas, proteínas e minerais. Teríamos de nos adaptar a uma nova dieta. Essa não seria a única mudança na rotina: seu guarda-roupas também passaria por uma revolução.
[MAIA, B.; ROCHA, R. E se a gente parasse de comer carne? Revista Superinteressante, São Paulo, n. 290, p. 52, abr. 2011.]
POR QUE A GENTE SENTE VERGONHA ALHEIA?
Você pode até ser insensível, mas seus neurônios são solidários. (Texto de Vanessa Vieira).
Se a visão de um colchão com pulgas provoca coceira alheia, natural que testemunhar uma situação embaraçosa cause a famosa vergonha alheia. Por trás dessas sensações solidárias estão as estrelas da neurologia contemporânea: os neurônios-espelhos. Essas células são especialistas em copiar: simulam no nosso cérebro o que está acontecendo com outra pessoa. E isso vale para movimentos e emoções. Foi o que mostrou uma pesquisa do Institut de Neurosciences Physiologiques et Cognitives de la Mediterranée, na França, que escaneou o cérebro de voluntários, enquanto sentiam um odor desagradável e enquanto apenas assistiam um vídeo de outras pessoas sentindo nojo. Em ambas as situações, as áreas ativadas no cérebro foram as mesmas.
O resultado é que, ao ver alguém experimentando uma emoção, nossa tendência é simular em nós mesmos o mesmo medo, tesão, alegria e, claro, a mesma vergonha. Isso vale inclusive para aquelas vezes em que aquela que consideramos a vítima não está nem aí, mas você está. “É como se nosso cérebro, ao identificar uma situação desafiadora, nos desse uma provinha para degustação”, dia Renata Pereira Lima, pesquisadora do Laboratório de Neurociência e Comportamento da USP. Ou seja, se você vê alguém pagando mico em um reality show e sente vergonha alheia, é seu inconsciente avisando: “não é pra você”.
[VIEIRA, V. Por que a gente sente vergonha alheia? Revista Superinteressante, São Paulo, n. 290, p. 49, abr. 2011.]
CSI INSETOS
Moscas, besouros e formigas são as novas armas dos peritos para desvendar crimes misteriosos. (Texto de Cristine Gerk e Ilustrado por Eber Evangelista).
Ao chegar em uma cena de crime, os peritos não se dirigem apenas ao cadáver – observam também os insetos presentes. “Eles ajudam a elucidar questões relacionadas à morte violenta, maus-tratos e sequestro”, explica a perita Janyra da Costa. A prática já virou regra nos EUA e na Europa. Veja por quê.
[GERK, C. CSI insetos. Revista Superinteressante, São Paulo, n. 290, p. 32, abr. 2011.]